11.
O aeroporto é um lugar fantástico. Sempre o achei. Desde criança. Gente que parte e que chega. Sorrisos, lágrimas, emoção. Tudo se esquece e de tudo nos lembramos. Do passado e do futuro. Do sol e da chuva. Dos dias cinzentos e dos mais brilhantes.
Sofro em silêncio. Tento esconder a fragilidade da minha alma por detrás de um sorriso verdadeiro mas esforçado.
A cumplicidade das pessoas que amo, a saudade que sei que vou sentir, as recordações dos bons e dos piores momentos da minha vida, a amargura das histórias que não tiveram fim, das que o fim foi muito rápido e das que o fim foi o princípio. As coisas que tinha para dar e as que dei, o quotidiano adverso e a adversidade de uma vida de amor dedicado e negro. A insegurança e a fuga. A derrota aliada à vitória de um amor sem fim. O Afonso. A Bia. A Maria Eduarda. O Francisco.
Sei que tudo vai ficar para trás. Que o sonho acaba onde um novo começa. Começo. De vida. De encontros. De caminhos. De solidão.
Sinto-me como numa montanha russa. A adrenalina a subir. A vida ao contrário. Tudo desordenado. Desconcertado. Desconectado. Um mundo assimétrico ergue-se perante o meu olhar resignado e desesperado. Conseguirei viver o confronto das diferenças leais e frenéticas que irei encontrar?
Sou forte e não choro.
Despedi-me ontem do Francisco. Não foi bem uma despedida, mas o nosso último jantar da semana. Do mês. Do ano. Da eternidade. Preferia não pensar assim, mas não sei se voltarei mais a Portugal. O Francisco não suporta a palavra "adeus", por isso, disse-lhe "até sempre". Ele não veio até ao aeroporto. O meu amigo. Tinha tantas coisas para lhe dizer. Tanto a agradecer-lhe. O meu espelho. As imagens meigas da realidade de uma amizade que voa para além do tempo, da vida, da existência inimiga e comprada. Um amor sincero e sossegado, duradouro e especial. Um casamento de corações e de partilha.
A Bia. A ingenuidade de alguém que só ama um homem e que é feliz escondida nos enfeites da sombra de uma amiga que não a soube amar. Ou que a amou mal. Um dia, ela vai mostrar-se e revelar-se uma mulher forte, um tesouro que ela esconde numa caverna que pulsa de desejo e de ambição. Tenho total certeza.
A Maria Eduarda. A minha prima. A minha segurança. O meu suporte. Devo-lhe a vida. Devo-lhe o que sou hoje de bom. As qualidades que ela esculpiu e os defeitos que não conseguiu esfumar. Devo-lhe tudo. Ela não me deve nada. Absolutamente, nada. Por vezes, parecia-me que vivia em função de mim. Que eu era a sua vida. E eu não lhe dei nada mais que preocupações e insónias. A partir de agora o Gui e ela vão finalmente encontrar a tranquilidade que a relação deles necessita.
O Tomás. Não lhe disse que ia para o Brasil hoje. Não queria um escândalo. Ultimamente ele tornou-se compulsivo, agressivo. Espero que encontre alguém que o saiba amar como ele merece. Eu só amo o meu príncipe tenha ele mil defeitos e nenhuma virtude.
O Afonso… o meu Afonso… Perdoa-me esta fuga, mas viver na mesma cidade, no mesmo país, no mesmo planeta e não poder tocar-te é doloroso demais. Sei que jamais irei esquecer-te, que a distância não mudará em nada o que sinto por ti, mas preciso mesmo de ir. Preciso de ludibriar este amor florbélico e extremo que alimentei com a esperança dispersa de um (im)possível sinal teu. Amo-te. Nunca te disse isto com a maturidade necessária e credível de hoje. Nunca mais dissemos nada um ao outro. Foi como se a nossa história não tivesse existido. Nem para mim, muito menos para ti. Amo-te num silêncio que me esquarteja e deprime. Amo-te com a certeza de que tudo é um erro, de que foste um erro. Um erro que eu acarinho e alimento. ‘My favourite mistake’. Não por necessidade, mas pela vontade de sentir algo sublime. Mais forte que a natureza, mais seguro que a morte, mais certo que o amanhã. O amor. O meu amor. Tu. Afonso. Príncipe salvador de sonhos e encantador de corações, protege o que sinto por ti. Guarda para sempre as recordações de uma história que tinha tudo para dar certo e que não deu em nada. Voa até mim e sente o meu espírito saudoso pulsar de sofrimento, de amargura, de incerteza, de angústia, de medo…
E o avião parte. As asas do meu coração abrem-se e acolhem-te num leito de ternura e magia. Tudo vai ficando para trás sem que eu nada possa fazer. Vou embora da tua vida. Da minha vida. Da casa confortável que me protegeu e materializou. O teu coração. A minha alma pairará sobre ti intemporalmente. Sobre Portugal. Sobre tudo o que fui e que ai vivi. Tudo o que jamais irei voltar a viver.
Sofro em silêncio. Tento esconder a fragilidade da minha alma por detrás de um sorriso verdadeiro mas esforçado.
A cumplicidade das pessoas que amo, a saudade que sei que vou sentir, as recordações dos bons e dos piores momentos da minha vida, a amargura das histórias que não tiveram fim, das que o fim foi muito rápido e das que o fim foi o princípio. As coisas que tinha para dar e as que dei, o quotidiano adverso e a adversidade de uma vida de amor dedicado e negro. A insegurança e a fuga. A derrota aliada à vitória de um amor sem fim. O Afonso. A Bia. A Maria Eduarda. O Francisco.
Sei que tudo vai ficar para trás. Que o sonho acaba onde um novo começa. Começo. De vida. De encontros. De caminhos. De solidão.
Sinto-me como numa montanha russa. A adrenalina a subir. A vida ao contrário. Tudo desordenado. Desconcertado. Desconectado. Um mundo assimétrico ergue-se perante o meu olhar resignado e desesperado. Conseguirei viver o confronto das diferenças leais e frenéticas que irei encontrar?
Sou forte e não choro.
Despedi-me ontem do Francisco. Não foi bem uma despedida, mas o nosso último jantar da semana. Do mês. Do ano. Da eternidade. Preferia não pensar assim, mas não sei se voltarei mais a Portugal. O Francisco não suporta a palavra "adeus", por isso, disse-lhe "até sempre". Ele não veio até ao aeroporto. O meu amigo. Tinha tantas coisas para lhe dizer. Tanto a agradecer-lhe. O meu espelho. As imagens meigas da realidade de uma amizade que voa para além do tempo, da vida, da existência inimiga e comprada. Um amor sincero e sossegado, duradouro e especial. Um casamento de corações e de partilha.
A Bia. A ingenuidade de alguém que só ama um homem e que é feliz escondida nos enfeites da sombra de uma amiga que não a soube amar. Ou que a amou mal. Um dia, ela vai mostrar-se e revelar-se uma mulher forte, um tesouro que ela esconde numa caverna que pulsa de desejo e de ambição. Tenho total certeza.
A Maria Eduarda. A minha prima. A minha segurança. O meu suporte. Devo-lhe a vida. Devo-lhe o que sou hoje de bom. As qualidades que ela esculpiu e os defeitos que não conseguiu esfumar. Devo-lhe tudo. Ela não me deve nada. Absolutamente, nada. Por vezes, parecia-me que vivia em função de mim. Que eu era a sua vida. E eu não lhe dei nada mais que preocupações e insónias. A partir de agora o Gui e ela vão finalmente encontrar a tranquilidade que a relação deles necessita.
O Tomás. Não lhe disse que ia para o Brasil hoje. Não queria um escândalo. Ultimamente ele tornou-se compulsivo, agressivo. Espero que encontre alguém que o saiba amar como ele merece. Eu só amo o meu príncipe tenha ele mil defeitos e nenhuma virtude.
O Afonso… o meu Afonso… Perdoa-me esta fuga, mas viver na mesma cidade, no mesmo país, no mesmo planeta e não poder tocar-te é doloroso demais. Sei que jamais irei esquecer-te, que a distância não mudará em nada o que sinto por ti, mas preciso mesmo de ir. Preciso de ludibriar este amor florbélico e extremo que alimentei com a esperança dispersa de um (im)possível sinal teu. Amo-te. Nunca te disse isto com a maturidade necessária e credível de hoje. Nunca mais dissemos nada um ao outro. Foi como se a nossa história não tivesse existido. Nem para mim, muito menos para ti. Amo-te num silêncio que me esquarteja e deprime. Amo-te com a certeza de que tudo é um erro, de que foste um erro. Um erro que eu acarinho e alimento. ‘My favourite mistake’. Não por necessidade, mas pela vontade de sentir algo sublime. Mais forte que a natureza, mais seguro que a morte, mais certo que o amanhã. O amor. O meu amor. Tu. Afonso. Príncipe salvador de sonhos e encantador de corações, protege o que sinto por ti. Guarda para sempre as recordações de uma história que tinha tudo para dar certo e que não deu em nada. Voa até mim e sente o meu espírito saudoso pulsar de sofrimento, de amargura, de incerteza, de angústia, de medo…
E o avião parte. As asas do meu coração abrem-se e acolhem-te num leito de ternura e magia. Tudo vai ficando para trás sem que eu nada possa fazer. Vou embora da tua vida. Da minha vida. Da casa confortável que me protegeu e materializou. O teu coração. A minha alma pairará sobre ti intemporalmente. Sobre Portugal. Sobre tudo o que fui e que ai vivi. Tudo o que jamais irei voltar a viver.