"Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer." [M.S.T.]

14.2.09


"O mais estranho, é que gosto mesmo de ti. (...) A tua lembrança é um prazer que desliza, surripiando-me; chegas de repente, agradável como uma brisa quente ou uma boa notícia, e eu imagino-nos cenários, não amorosos nem eróticos, mas, antes, de circunstância: encontros fortuitos, casuais, um pequeno-almoço, um relance de carro, um telefonema, uma gargalhada, um encontro de pulsos, de tornozelos. Faço-o sem qualquer expectativa romântica ou intuito amistoso: és menos do que um amante e mais do que um amigo. Não que me sejas mais próximo ou íntimo, porque não o és, mas porque, mesmo longínquo, me exaltas e entreténs, ocupando o meu espírito movediço e centrando-o, como a perspectiva de ir de férias ou de casar amanhã. Não me iludo, não é disso que se trata: apenas te construo em mim, uma e outra vez, como uma primeira dentada antecipando a gula, lenta e deliberada. Nunca o esmaecer do teu rosto me angustia, antes, enleva-me e inspira-me, soalheiro. Há momentos em que te conduzo para sítios bonitos de cartaz, como jardins secretos e praias desertas, e onde te vejo ao meu lado como se estivesses mesmo. Ali, entabulo conversas, contradigo-te e acotovelo-te, deixando que me faças cócegas e me olhes longamente, como os casais nas fotografias. Encontro-te no estame de uma flor, na caruma dos pinheiros e na linha do horizonte: basta-me olhar com atenção. E cheiras sempre bem: uma mistura de pólenes, resinas e maresias, da qual sobressai o travo adocicado do desejo, quieto como as nuvens mais altas. Acima de tudo, enterneces-me. E é esta perenidade mansa, que não reconhece o escavar do tempo, que não pede retorno e se basta em si mesma, que às vezes me inquieta e assusta, nem sei bem porquê."


Em http://www.umamoratrevido.blogspot.com/ definitivamente o meu blogue preferido.

3 comentários:

  1. gosto do teu gosto.entabular conversas,maneira elegante de escapar ha possivel seduçao,porque sabe-se quando evitamos o fim das palavras...o silencio,no espaço em que impera,é no toque que os corpos se revelam,com um beijo

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  2. ai, e as mãos, a minha parte do corpo preferida... essas deixam-se conhecer, olham-se directamente, como não conseguimos fazer com os nossos olhos. as mãos procuram-se, descobrem-se, unem-se e brincam com a fugacidade da eternidade. são enigmáticas como o momento que as precede.
    com mais um beijo

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  3. faço das tuas palavras minhas,da mesma maneira do que as vezes o que se tem entre maos...com um beijo

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