"Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer." [M.S.T.]

21.8.09

10. 
A Eva vai para o Brasil. A minha Eva. O meu segredo. Ouvi – por acaso, claro está – a Maria Eduarda comentar soluçante que a Eva ia partir. Para um lugar distante onde eu sempre desejei que ela fosse morar. Mas agora, quando esse momento chegou, não penso assim. A Eva longe… do meu coração, da minha vida, da maledicência estimulante de mim e do que sinto por ela. Silenciosamente.
Silêncio. Sem a Sofia por perto. Não percebo o que me leva a aguenta-la. Talvez seja apenas o facto de saber que a tenho a qualquer hora, que ela estará sempre por perto. Como se o meu perfume exalasse fortuna e conforto. Aposto que se eu não tivesse uma bela conta bancária, a Sofia já tinha partido, melhor dizendo, nunca haveria atracado.
Eu aqui a falar da Sofia, no momento em que a minha Borboleta vai voar para outro mundo, para um mundo onde não a imagino. Ela faz parte apenas do meu, mesmo não o sabendo. Nunca tive coragem para lho dizer. E não vai ser agora que o vou fazer. "Eva, nunca deixei de te amar. Passei estes nove anos contigo balançando nos meus mais ínfimos segredos. Amo-te." Aposto que ia ter um ataque de riso. Ou ia achar que eu estava bêbedo. Depois de tantos anos ainda gosto dela. Ia chamar-me louco, obcecado, anormal. E, por sinal, é mesmo isso que eu sou. Um medroso que não tem capacidade para exprimir o que sente, mesmo que esse sentimento me magoe e queime, deixando feridas incicatrizáveis.
Gosto da forma tímida e intimidante da Eva. Amo-lhe o carácter indomado e carente. O caixão que comprei e onde não a consigo sepultar. O sorriso inocente que a pinta de rosa e me inebria de jasmim. De alecrim. De alegria. De desconcertação. De compaixão de mim. Pobre Eu.
Para o meu bem deveria deixa-la partir. Da minha vida, não de Portugal. Eu nunca chorei por causa de nada e choro agora pela minha Eva. Ignoro as lágrimas como camuflei todos estes anos o meu amor. E vou sofrendo. Pensei que chorar nos fazia sentir menos homens. Mas não. Sinto-me mais forte. Mais tranquilo. Mais leve. Percebo finalmente o que leva as mulheres a chorarem tanto e tão bem. Choro enquanto sorriu. Ou sorriu enquanto choro. E encanto-me. Pela arte de chorar. Pela descompressão e pela saudade que irei sentir da Eva. Eu não quero continuar a fugir do amor. Não quero mesmo. Tinha medo de chorar e aprendi a fazê-lo. Amar a Eva sem receios nem falhas será o próximo passo. Um encontro branco, irrepetível, de um silêncio leve e pacifista. Paz. Sinto-a a inundar-me, a fazer-me cócegas, a abraçar-me carinhosamente. Como eu abraço a Eva todas as noites. Na Primavera e no Outono. No Inverno e no Verão. Em frente à lareira aconchegante que me fascina e acolhe. Ou olhando a lua, em pleno Alentejo, numa noite brilhante e deliciosamente sonorizada pelos animais testemunhos de um amor secreto e borbulhante. O meu amor pela Eva. Desejo-a desde que os meus olhos afloraram os dela de uma maneira sorridente, sussurrante e compatível. Como eu te amo Borboleta. Como poderei eu amar-te tanto, querida? Meu anjo intermitente e macio. Meu anjo ingénuo e indomável. Meu anjo.
A segurança de que me gabo e me enxaguo de nada me vale diante de ti. Nada me anima. Tudo me esmaga, ameaça e insulta. Tudo, Borboleta colorida.

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